DEIXAMOS MAMÃE NO LAR E EU NÃO CONSIGO ME LIVRAR DA CULPA

A parte mais difícil não foi arrumar as coisas dela. Não foi assinar a papelada ou andar por aqueles corredores bege e silenciosos demais. Foi quando ela sorriu para mim e disse: “Você não precisa me visitar todos os dias, querida. Vou ficar bem.”

Ela disse isso como se acreditasse. Como se estivesse tentando me fazer sentir melhor.

Todos concordamos que era hora. A memória da mamãe começou a falhar — pequenas coisas no início, como esquecer se tinha comido ou onde colocou a bolsa. Então, ela saiu de casa no meio da noite e a vizinha a encontrou de robe, descalça, perguntando para onde o papai tinha ido. O papai já estava desaparecido há oito anos.

Não era mais seguro. Minha irmã Salomé e eu trabalhamos em tempo integral e temos nossos próprios filhos para cuidar. Tentamos nos revezar nos dias, contratar uma cuidadora, mas minha mãe continuava demitindo pessoas. Dizia que não queria “um estranho dando banho nela”.

O asilo não é ruim, sinceramente. Lugar limpo, funcionários gentis, pátio agradável com um alimentador de pássaros que ela adora observar. Mas, no minuto em que saímos do quarto dela, senti um nó horrível na garganta. Como se a tivéssemos abandonado.

No carro, Salomé não disse muita coisa. Apenas olhou pela janela e mexeu no esmalte.

“Sinto que estamos desistindo dela”, eu disse finalmente.

“Não estamos”, ela murmurou, mas sua voz falhou um pouco. “Estamos apenas… sem opções.”

Naquela noite, não consegui dormir. Fiquei pensando na minha mãe escovando meu cabelo quando eu era pequena, cantarolando músicas antigas enquanto preparava meu lanche. Agora eu a tinha deixado em um quarto com um colchão de plástico e um botão de chamada que ela provavelmente não vai se lembrar de apertar.

Então o telefone tocou. 6h47

Era o asilo.

Meu coração disparou. Atendi no segundo toque. “Aqui é a Camilla.”

“Olá, Sra. Rocha. Aqui é a Carla, de Evergreen Oaks. Só queria que você soubesse que sua mãe está bem — ela está bem — mas ela levou um susto hoje de manhã.”

Sentei-me ereta na cama, os cobertores de repente pesados ​​demais. “Que tipo de susto?”

Ela ficou confusa e achou que ia trabalhar. Saiu pela porta da frente antes que a gente percebesse. Estava tentando chegar ao ponto de ônibus no fim da rua.

Pisquei. “Ela não trabalha há vinte anos.”

“Eu sei. Atualizamos o prontuário dela para sinalizar esse tipo de deambulação. Ela não está machucada. Apenas… abalada. Nós também.”

Agradeci à Carla, desliguei e fiquei ali sentada. Não eram nem 7 da manhã e eu já estava com vontade de chorar. De novo.

Quando contei para a Salomé mais tarde, ela não disse muita coisa. Apenas apertou os lábios e assentiu. Mas na tarde seguinte, ela já estava no asilo antes mesmo que eu pudesse sair do trabalho. Apareci com alguns cachecóis e livros de palavras cruzadas antigos da mamãe e encontrei a Salomé penteando o cabelo da mamãe, conversando como se tudo estivesse normal.

Mamãe olhou para cima e sorriu quando entrei. “Ah, você trouxe o meu favorito”, disse ela, pegando um lenço de seda que costumava usar na igreja. Sorri, mas por dentro eu estava quebrando. Por quanto tempo ela ainda se lembraria de que aquele era o seu favorito?

Os dias se passaram. Começamos a nos visitar com mais frequência do que esperávamos. No começo, era por culpa, não vou mentir. Mas depois virou hábito. Mamãe tinha seus caprichos — alguns dias ela era esperta, contava histórias da infância que nunca tínhamos ouvido antes. Outros dias, ela perguntava onde o papai estava e chorava quando a lembrávamos. Aqueles dias eram os piores.

Certa tarde, algo inesperado aconteceu. Estávamos conversando durante o bingo — Salomé, as crianças e eu. Vi uma mulher sentada ao lado da mamãe, rindo com ela, tocando seu braço gentilmente. Ela parecia ter a minha idade.

“Quem é?” sussurrei para Carla, uma das enfermeiras.

“Essa é a Renata. A mãe dela mora no fim do corredor. Ela vem nos visitar bastante e meio que… adotou um pouco a sua mãe.”

Fui até lá e me apresentei. Renata sorriu gentilmente. “Sua mãe é um doce. Ela me lembra a minha tia.”

Nas semanas seguintes, Renata e eu começamos a conversar mais. Trocamos cafés, trocamos histórias e até choramos uma vez no estacionamento depois de um dia difícil. De alguma forma, essa desconhecida se tornou parte do meu sistema de apoio.

E então, do nada, a mamãe teve uma semana ótima. Ela se lembrou do aniversário da Salomé, cantou metade de uma música que não ouvíamos há anos e até brincou com meu filho por causa da falta do dente da frente.

Percebi então que não era perfeito, mas também não era tudo perda.

Num sábado, trouxemos alguns álbuns de fotos antigos da mamãe para o pátio. Ela apontou para uma foto dela e do papai dançando e disse: “Ele pisou no meu pé a noite toda. Mas ele estava tão bonito que nem me importei.”

Senti a culpa mudar. Não desaparecer, mas suavizar.

Naquele dia, enquanto voltávamos para o carro, Salomé parou e disse: “Talvez isso não seja desistir. Talvez seja… amá-la de uma nova maneira.”

E ela estava certa.

Não abandonamos a mamãe. Nós nos adaptamos. Continuamos aparecendo. Encontramos ajuda, encontramos uma comunidade, encontramos uma força que não sabíamos que tínhamos.

Se você está passando por algo assim, saiba: fazer o que é melhor nem sempre é bom. Mas isso não significa que seja errado.

Você pode carregar amor e tristeza ao mesmo tempo.

E você não precisa carregá-lo sozinho.

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