MEUS FILHOS VIRAM UM HOMEM ANDANDO NA MINHA BICICLETA VELHA — E O QUE ELE FEZ EM SEGUIDA ME DEIXOU SEM PALAVRAS

Vendi a bicicleta duas semanas depois do funeral.

Nem esperei um mês inteiro. Simplesmente não consegui. Não consegui encarar aquela figura fria sentada na garagem, me provocando com lembranças. Cada curva daquela Harley preta me lembrava dela — Mia — pressionando o queixo nas minhas costas, rindo no meu ouvido, seus braços agarrando minha cintura como se eu fosse a única coisa que a mantinha ancorada à terra. Ela tinha um capacete rosa ridículo, arranhado e gasto, contrastando com tudo o que usávamos. Andar de moto era nossa fuga. Nossa rebelião. Nossos encontros e terapia juntos.

Mas quando o acidente aconteceu — quando um motorista bêbado avançou o sinal vermelho e a levou embora — estacionei a moto e nunca mais toquei nela. Não consegui. Andar sem ela não era apenas doloroso — parecia errado. E, mais do que tudo, parecia perigoso. Como tentar o destino. Eu tinha dois filhos que precisavam de mim. Eu não podia arriscar.

Então eu deixei pra lá. Disse a mim mesma que era só uma máquina. Deixar pra lá fazia parte de seguir em frente. É o que as pessoas dizem, né? “Você tem que seguir em frente.”

Mas algumas mentiras ficam presas na garganta.

Certa vez, flagrei meu filho, Jace — ele tem dez anos — passando a mão na bicicleta antes de eu vendê-la, sussurrando para ela como se ela pudesse responder. Minha filha, Lila, que tem treze anos e age como se tivesse trinta, parou de desenhar no caderno por dias depois que ele desapareceu da garagem. Eles nunca disseram nada, não diretamente. Mas eu sabia. Eles a viam pelo que ela era: um símbolo de nós antes que o mundo se abrisse.

Então, quando eles invadiram a porta da frente ontem, gritando como se a casa estivesse pegando fogo, eu sabia que algo estava acontecendo.

“Pai! Tem um homem na sua bicicleta!”

“É! A Harley preta — chamas no tanque! Seu desenho! Você pintou aquilo!”

Eu os segui, com o coração disparado. Lá, no fundo do quarteirão, um homem de uns 40 anos pedalava devagar pela rua como se não tivesse para onde ir. A moto brilhava como se eu a tivesse polido ontem. A chama personalizada na lateral ainda parecia nova — laranja e vermelho lambendo o tanque como se fosse algo vivo.

Era meu.

“Parece que está em boas mãos”, eu disse, mais para mim do que para eles, e me virei para dentro. Mas a verdade? Meu estômago se revirou como se eu tivesse acabado de ver um ex com outra pessoa. Não era ciúme — era algo mais profundo. Luto com uma nova camada de arrependimento.

Na manhã seguinte, eu ainda estava pensando nisso enquanto preparava ovos mexidos e torradas. As crianças estavam estranhamente quietas, trocando olhares, mas sem palavras. E então eu ouvi — aquele ronco baixo e familiar de um motor V-twin.

Abri a porta e saí.

Ele estava estacionado no meio-fio. O homem de ontem. Sem capacete, revelando cabelos cor de areia com mechas de olhos cinzentos e marcados pelo sol, um sorriso caloroso que não combinava com a jaqueta de couro e as luvas sem dedos.

“Bom dia”, ele chamou. “Se importa se eu falar com você um segundo?”

Hesitei. Então saí da varanda.

“Meu nome é Rick”, disse ele, estendendo a mão calejada. Apertei-a.

“Eu sou o Nate.”

“Eu sei”, ele assentiu. “Seus filhos me contaram tudo sobre você ontem. Não demorou muito para ligar os pontos.”

Levantei uma sobrancelha. “Eles falam com estranhos agora?”

Ele riu. “Eu era um estranho até contar que estava com a sua bicicleta. Aí eu virei praticamente um super-herói.”

Olhei para a Harley. “Você a mantém em bom estado.”

“Nem pensaria em fazer o contrário”, disse ele, enfiando a mão no bolso do paletó. “Eu sei que isso é estranho, cara, e eu não queria me intrometer, mas depois de conhecer seus filhos… achei que talvez você devesse ficar com isso.”

Ele me entregou um folheto dobrado.

Era para um clube de motociclistas. “The Iron Circle Riders”.

Abaixo do logotipo, lia-se: Passeios de fim de semana. Ninguém pedala sozinho.

“Nos encontramos todos os domingos”, disse Rick. “Nada de especial. Só um grupo de pessoas que já passaram por muita coisa — luto, divórcio, TEPT, tudo. Pedalamos juntos. Cuidamos uns dos outros. É uma terapia com cromo e acelerador.”

Olhei para o folheto. “O que isso tem a ver comigo?”

Ele deu de ombros. “Seus filhos me contaram por que você vendeu a bicicleta. Eu entendo. De verdade. Perdi meu irmão para o mesmo tipo de coisa há cinco anos. Por um tempo, pensei que nunca mais voltaria a andar de bicicleta. Aí encontrei este grupo.”

Ele fez uma pausa, olhando-me fixamente. “Se você quiser de volta — sua bicicleta — eu vendo. Pelo mesmo preço que paguei. Sem margem de lucro. Mas só se você der uma volta. Veja como é. Se você não gostar, sem ressentimentos.”

Levei um segundo para responder.

“Você devolveria?” perguntei.

“Prefiro que vá para alguém que entenda o que significa”, disse Rick. “Além disso, ainda parece a sua bicicleta.”

Não disse sim de imediato. Mas também não disse não.

Naquele domingo, apareci em um posto de gasolina na Rota 7, usando minhas botas velhas e minha jaqueta que ainda cheirava levemente a óleo e couro. Rick estava lá, acenando para mim com o mesmo sorriso calmo. Os outros motociclistas chegaram aos poucos — homens e mulheres, jovens e velhos, alguns com manchas, outros apenas com sujeira da estrada e olhos cansados. Eu esperava barulho e bravata. Mas estava tudo quieto. Respeitoso. Como uma igreja feita de escapamento e asfalto.

Pedalamos juntos por 64 quilômetros por estradas secundárias que serpenteavam como fitas entre as colinas. Eu não falei muito. Não precisava. O vento falou por si só.

Quando paramos para almoçar em um restaurante de beira de estrada, uma mulher chamada Tasha sentou-se ao meu lado e perguntou sobre Mia. Eu não dizia o nome dela havia semanas. Surpreendi-me ao contar tudo a ela — como nos conhecemos em um posto de gasolina, como ela me ensinou a dançar salsa na sala de estar, como ela morreu em um segundo e levou um pedaço de mim com ela.

“Sabe o que eu acho?”, disse Tasha, apoiando a mão no meu antebraço. “Acho que se ela te visse hoje, ficaria orgulhosa de você ter voltado.”

Não respondi. Mas também não discuti.

Quando o passeio terminou, Rick me entregou uma chave.

“É seu se você quiser”, disse ele.

Olhei para a bicicleta, depois para as minhas mãos — tremendo um pouco. Não de medo, mas de algo novo. Antecipação.

“Eu quero”, eu disse.

Naquela noite, estacionei o carro na garagem. Jace e Lila já estavam na varanda, esperando como se fosse manhã de Natal.

“Você comprou de volta?” Lila engasgou.

“Sim”, eu disse, desci e joguei um capacete para cada um.

“Vamos dar uma volta?”

“Só se você prometer segurar firme”, sorri.

Não fomos muito longe — apenas alguns quarteirões, circulando o bairro —, mas o som de suas risadas em meus ouvidos, a sensação do vento no meu rosto, era como respirar depois de prender a respiração por muito tempo.

Mia ainda estava longe. Isso não havia mudado. Mas algo em mim havia mudado. A tristeza ainda estava lá, claro — mas agora, tinha espaço para se juntar a outra coisa. Esperança.

Então, sim, vendi a bicicleta duas semanas depois do funeral. Mas talvez deixá-la ir não tenha sido o erro.

Talvez o erro tenha sido pensar que eu teria que pedalar sozinho.

Você teria devolvido a bicicleta?

Se esta história te emocionou, compartilhe. Alguém por aí pode precisar de um motivo para voltar à estrada.

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